Use este identificador para citar ou linkar para este item: http://ri.ufmt.br/handle/1/3262
Tipo documento: Tese
Título: Os espelhos das exclusões radicais : o mundo prisional feminino brasileiro visto do outro lado da linha abissal
Autor(es): Carvalho, Claudia Cristina Ferreira
Orientador(a): Passos, Luiz Augusto
Coorientador: Santos, Boaventura de Sousa
Membro da Banca: Passos, Luiz Augusto
Membro da Banca: Prudente, Celso Luiz
Membro da Banca: Freire, Maria de Lourdes Bandeira Lamonica
Membro da Banca: Coenga, Rosemar Eurico
Membro da Banca: Martins, Maria Teresa Henriques da Cunha
Resumo : A presente investigação, crítica das teorias feministas pós-coloniais, parte da perspectiva que a fabricação da Outra feminina como o outro do outro masculino, alimenta-se de um pensamento abissal, que tanto obliterou ou oblitera quanto sistematicamente produziu ausências, instaurou a violência subalterna de um gênero masculino sobre o gênero feminino, construindo linhas radicais de exclusão social. Esse sistema de opressão, que é nominado hétero-patriarcal, não nasceu com a modernidade ocidental, mas sem dúvida aliançou-se a outras duas lógicas de opressão que são o colonialismo e o capitalismo, para reificar de um lado, os homens como o centro e medida para todas as coisas; de outro, as mulheres como a periferia de quem se imagina centro (o homem). Nessa lógica, as mulheres subalternizadas têm suas vozes emudecidas, sua ontologia e epistemologia desperdiçada e invisíbilizadas. Assim, a pesquisa analisou as dimensões compreensivas interpretativas das interações intersubjetivas construídas por mulheres subalternizadas no interior de uma penitenciária feminina brasileira, tanto aquelas em condição de reclusão quanto as trabalhadoras daquele sistema prisional. Recorreu-se às Epistemologias do Sul, proposta de Boaventura de Sousa Santos, para explorar as ruínas daquilo que tem sido produzido como sociologia das ausências e emergências. De um lado, objetivou-se problematizar as formulações do saber-poder institucional nos processos ordinários esculpidos nas interações entre as mulheres trabalhadoras e as mulheres em reclusão. De outro, analisou-se naquele espaço–tempo prisional, convertido em desumanização do/a Outro/a, como as mulheres em condição de reclusão constroem saberes de resistências-resilências explícitos ou não, nascidos da luta, do sofrimento. Hipótese central, é a de que a prisão cumpre um papel sociopolítico de continuidade e reiteração das exclusões radicais geradas pelos sistemas de opressão capitalista, colonial e patriarcal. Sistemas que geram e gerenciam linhas abissais, que pela divisão, obliteram as sociabilidades por eles gerados. O trabalho empírico teve como cerne a pesquisa qualitativa de abordagem etnográfica, e em seu bojo, triangulou-se procedimentos de observação, entrevistas e iconografias (imagens) produzidas a partir da estratégia proposta e aceita de um curso de fotografia ministrado às mulheres que desejassem participar. A imersão no terreno da pesquisa perdurou no total de onze meses. A compreensão interpretativa da escala do fenômeno em estudo, delimitou-se numa ecologia de saberes, traduzidas em cinco núcleos centrais epistêmicos, políticos e ontológicos que problematizou-se: os modos como a cartografia formal e a não-formal esculpem os espaço-tempos prisional; como os processos de reclusão na instituição prisional refletiram os espelhos das exclusões radicais caracterizadas pela dicotomia entre igualdade formal e desigualdade real; discutiu-se o saber-poder institucional como processos ordinários de apropriação e violência; abordou-se, a partir das experiências pessoais das mulheres em reclusão, os modos como a violência de gênero reverberam nos processos de encarceramento feminino; visibilizou-se as formas de resistências e resiliências, e os saberes construídos pelas mulheres subalternizadas da penitenciária nascidos da luta e do sofrimento. A contribuição epistêmica, ontológica e política da tese é perceber as injustiças sociais e cognitivas a que estão expostas as mulheres subalternizadas do Sul-global, ao tempo de contribuir para o debate dos feminismos póscolonial, mobilizando novas questões para velhos problemas sócio-políticos e culturais.
Resumo em lingua estrangeira: This investigation, a critique of postcolonial feminist theories, starts from the perspective that the fabrication of the feminine Other as the other masculine, feeds from an abyssal thought, which either obliterated or obliterates, or systematically produced absences, introduced a subaltern violence of a masculine gender towards the feminine gender, constructing radical lines of social exclusion. This system of oppression, which is denominated hetero-patriarchal, was not born within western modernity, but it was undoubtedly formes by two other logics of oppression, that are colonialism and capitalism, to reify on the one hand, men as the center and measure of all things; On the other, women as the periphery of those who imagine themselves as the center (men). Accordingly to this logic, women have their voices muted, their ontology and epistemology wasted and invisible. Thus, this research analyzed the comprehensive interpretative dimensions of intersubjective interactions constructed by subalternized women inside a Brazilian female penitentiary, both those in condition of confinement and the workers of that prison system. The Southern Epistemologies, proposed by Boaventura de Sousa Santos, were used to explore the ruins of what has been produced as a sociology of absences and emergencies. On the one hand, the objective was to problematize the formulations of institutional knowledge-power in the ordinary processes sculpted out of the interactions between working women and women in confinement. On the other hand, it was analyzed in that prison space-time, converted into the dehumanization of the Other, as women in condition os confinement create knowledges of resistances-resilences explicits or not, born from the struggle and suffering. Central hypothesis, the prison fulfills a socio-political role of continuity and reiteration of the radical exclusions generated by the capitalist, colonial and patriarchal systems of oppression. Systems that generate and manage abyssal lines, which by division, obliterate the sociabilities they generate. The empirical investigation‟s essence was the qualitative research of ethnographic approach, and in its core, joined a triangular procedure of observation, interviews and iconographies (images) produced based on the proposed and accepted strategy of a photography course given to women who wished to participate. The immersion in the field of the research lasted for eleven months. The interpretative understanding of the scale of the phenomenon under study was delimited under an ecology of knowledge, translated into five nuclear central epistemic, political and ontological that was problematized: the ways in which formal and non-formal cartography sculpted the prison space-time; How the processes of imprisonment in the prison institution reflected the mirrors of radical exclusions characterized by the dichotomy between formal equality and real inequality; Institutional knowledge was discussed as an ordinary process of appropriation and violence; From the personal experiences of women in imprisonment, approaches such as gender violence reverberate in female incarceration processes; The forms of resistance and resiliency and the knowledge built by the subalternized women of the penitentiary out of struggle and suffering became visible. The epistemic, ontological and political contribution of the thesis is to perceive the social and cognitive injustices to which the subalternized women of the Southglobal are exposed, while contributing to the debate of postcolonial feminisms, mobilizing new questions for old socio-political problems and culture.
Palavra-chave: Encarceramento feminino
Epistemologias do Sul
Epistemologias feministas pós-coloniais
Emancipação social das mulheres do Sul-global
Palavra-chave em lingua estrangeira: Female imprisonment
South epistemologies
Post-colonial feminist epistemologies
Social emancipation of global-South women
CNPq: CNPQ::CIENCIAS HUMANAS::EDUCACAO
Idioma: por
País: Brasil
Instituição: Universidade Federal de Mato Grosso
Sigla da instituição: UFMT CUC - Cuiabá
Departamento: Instituto de Educação (IE)
Programa: Programa de Pós-Graduação em Educação
Referência: CARVALHO, Claudia Cristina Ferreira. Os espelhos das exclusões radicais: o mundo prisional feminino brasileiro visto do outro lado da linha abissal. 2017. 341 f. Tese (Doutorado em Educação) - Universidade Federal de Mato Grosso, Instituto de Educação, Cuiabá, 2017.
Tipo de acesso: Acesso Aberto
URI: http://ri.ufmt.br/handle/1/3262
Data defesa documento: 20-Sep-2017
Aparece na(s) coleção(ções):CUC - IE - PPGE - Teses de doutorado

Arquivos deste item:
Arquivo Descrição TamanhoFormato 
TESE_2017_Claudia Cristina Ferreira Carvalho.pdf5.59 MBAdobe PDFVer/Abrir


Os itens no repositório estão protegidos por copyright, com todos os direitos reservados, salvo quando é indicado o contrário.