Use este identificador para citar ou linkar para este item: http://ri.ufmt.br/handle/1/3952
Tipo documento: Tese
Título: Educação da mulher Bororo : caminhos formativos na educação escolar indígena em Mato Grosso
Autor(es): Campos, Neide da Silva
Orientador(a): Grando, Beleni Salete
Membro da Banca: Grando, Beleni Salete
Membro da Banca: Castilho, Suely Dulce de
Membro da Banca: Taukane, Isabel Teresa Cristina
Membro da Banca: Rodrigues, Eglen Silvia Pipi
Membro da Banca: Martins, Maria Teresa Henriques da Cunha
Resumo : Esta pesquisa busca produzir conhecimentos decoloniais articulados ao reconhecimento das “Epistemologias do Sul” (SANTOS, 2010; 2011) cujo sentido é sistematizar epistemologias próprias que não se identificam com o pensamento ocidental. A leitura epistêmica considera a realidade com o recorte dos estudos de caso referenciado na etnografia sobre os processos formativos de cinco professoras bororo em Mato Grosso. Busca-se conhecer os percursos que educam mulheres-professoras em uma sociedade matrilinear e matriarcal que se confronta, há três séculos, com os processos coloniais atravessados pela educação escolar cristã, patriarcal, machista e autoritária como expressão do lugar de fala não indígena. O contexto desvela as relações históricas e as estratégias atuais do capitalismo neoliberal que se constroem de forma mais explícita e violenta sobre territórios e cosmovisões ancestrais. A pesquisa faz o diálogo intercultural necessário à compreensão das dinâmicas de uma sociedade atual que busca manter-se com a centralidade da mulher na manutenção dos saberes específicos garantidos pela transmissão às novas gerações e às transições dos mundos vivenciados entre os vivos e os não vivos, concebida pela matrilinearidade da linhagem de tradição clãnica da casa da mãe. Organizada em duas metades exogâmicas complementares a partir dos clãs Ecerae e Tugoarege, constituídos por quatro subclãs, a sociedade estrutura-se em relações socioculturais internas e mantém conhecimentos e práticas que se expressam nos cantos, danças, adornos e pinturas corporais. Compreender o corpo-mulher-professora na sociedade matrilinear bororo e a transição entre o seu lugar de detentora e transmissora do conhecimento tradicional clânico para o de professora que ensina os conhecimentos da sociedade ocidental, patriarcal, numa escola que se pretende intercultural, foi o desafio assumido na pesquisa. Para tal, tecemos diálogos colaborativos com cinco professoras bororo estabelecidos tanto nas suas aldeias/comunidades quanto em Cuiabá-MT mediados pelas ações formativas do Projeto Ação Saberes Indígenas na Escola – Rede UFMT, por meio de entrevistas semiestruturadas, registros de observações em caderno de campo e fotográficos autorizados. A matriz matrilinear dessa sociedade milenar marca e produz/reproduz um corpo específico de ser mulher e de ser homem de forma distinta também pelas práticas e saberes partilhados em cada subclã. Essa educação e cosmovisão em que a mulher é a centralidade, no entanto, não os isenta de contradições e perspectivas de gêneros, marcadas pelo processo colonial e das colonialidades do pensar, do ser e do poder, que cada aldeia articula, de forma mais autônoma, ems seus processos próprios de negociações nas fronteiras étnico-culturais de seus territórios e heranças das relações históricas estabelecidas. A escola assume um lugar de múltiplas experiências e perspectivas para o projeto coletivo emancipatório do povo bororo do colonialismo epistemológico e das relações impositivas e autoritárias que atravessam suas expectativas também neste contexto que expressa a presença do Estado nas aldeias. O caminho trilhado pelas mulheres Boe - professora bororo, perpassa pela construção prestigiosa na coletividade que valida seu lugar na escola, como o processo formativo da monitoria, eleição e escolha da formação profissional. O protagonismo da mulher Boe-professora Boe mostra a força na luta política do povo ao assumir a interlocução com o Estado nacional, ao assumir cacicados, gestão escolar e proposições pedagógicas respaldadas pelo domínio epistêmico de sua cosmovisão. As mulheres-professoras atuam especialmente quando saem do espaço simbólico do campo doméstico e adentram outros contextos socioculturais e políticos, e o fazem a partir de um cuidado e uma necessidade coletiva com o seu povo, ou seja, reconhecendo-se e sendo reconhecida a partir do lugar social de mulher cujo compromisso mantém a estrutura matrilinear clânica, cuja responsabilidade é com a coletividade e cosmologia Boe.
Resumo em lingua estrangeira: This research search for producing decolonial knowledges allied to the recognition of the “Southern Epistemologies” (SANTOS, 2010; 2011) which meaning is to systematize the own epistemologies which are not identified with the Western thought. The epistemic reading considers the reality tied to the cut of case studies referenced in ethnography concerning the formative processes of five Bororo educators in the state of Mato Grosso. This study aims at identifying the means which educate womenteachers in a matrilineal and matriarchal society which has been confronted, for three centuries, with the colonial processes crossed by Christian, patriarchal, sexist and authoritarian education as an expression of the non-indigenous place of speech. The context reveals the historical relationships and the ongoing strategies of neoliberal capitalism built in a more explicit and violent system on ancestral territories and cosmovisions. The research creates the intercultural dialogue necessary to comprehend the dynamics of a current society which looks for maintaining the centrality of women in keeping on the specific knowledge guaranteed by the transmission to new generations and the transitions of the worlds experienced between the living and the non-living human beings, conceived by the matrilineality of the lineage of clan tradition of the mother's home. The research was organized into two complementary exogamic halves from the Ecerae and Tugoarege clans, made up of four subclass, the society is structured in internal sociocultural relations and maintains knowledge and practices which are expressed on singing, dancing, adorning and body painting. Comprehending the body-woman-teacher in the Bororo matrilineal society and the transition from her place of holder and transmitter of traditional clan knowledge to that of a teacher who teaches the knowledge of Western, patriarchal society, in a school that is intended to be intercultural, was the main challenge assumed by the research. Based on that, it was done collaborative dialogues with five Bororo’s teachers carried out in their settlements/communities and in Cuiabá-MT mediated by the formative actions of the Project Action Indigenous Knowledge at School – UFMT Network. The study counted on semi-structured interviews, records of observations in a field notebook and authorized photographs. The matrilineal matrix of this millenary society marks and produces/reproduces a specific body of being a woman and being a man in a distinct approach, also due to the practices and knowledge shared in each sub clan. This education and cosmovision in which women are the centrality, however, does not exempt them from contradictions and gender perspectives, marked by the colonial process and the colonialities of thinking, being and power, which each community articulates, in a more autonomous way concerning their own processes of negotiations on the ethno-cultural borders of their territories and legacy of established historical relations. The school assumes a place of multiple experiences and perspectives for the collective emancipatory project of the Bororo people from epistemological colonialism, as well as, the imposing and authoritarian relationships which cross their expectations also in this context that expresses the presence of the State in the communities. The route taken by the Boe women - Bororo teacher, passes through the prestigious construction in the community which validates their place in the school, as the formative process of monitoring, election and choice of the professional formation. The protagonism of the woman Boe-teacher Boe, reveals the strength in the political struggle of the people when she assumes the dialogue with the national State, when she assumes the chiefdom, the school management and the pedagogical propositions supported by the epistemic domain of her cosmovision. The women teachers act especially when they leave the symbolic space of the domestic field and get into other sociocultural and political contexts, and they do it, from a collective care and need for their people, which is, recognizing themselves and being recognized from of the social place of a woman whose commitment maintains the clan matrilineal structure whose responsibility is to Boe's collectivity and cosmology.
Palavra-chave: Educação
Professoras
Mulheres
Povo Bororo
Palavra-chave em lingua estrangeira: Education
Teachers
Women
Bororo’s people
CNPq: CNPQ::CIENCIAS HUMANAS::EDUCACAO
Idioma: por
País: Brasil
Instituição: Universidade Federal de Mato Grosso
Sigla da instituição: UFMT CUC - Cuiabá
Departamento: Instituto de Educação (IE)
Programa: Programa de Pós-Graduação em Educação
Referência: CAMPOS, Neide da Silva. Educação da mulher Bororo: caminhos formativos na educação escolar indígena em Mato Grosso. 2021. 234 f. Tese (Doutorado em Educação) - Universidade Federal de Mato Grosso, Instituto de Educação, Cuiabá, 2021.
Tipo de acesso: Acesso Aberto
URI: http://ri.ufmt.br/handle/1/3952
Data defesa documento: 30-Mar-2021
Aparece na(s) coleção(ções):CUC - IE - PPGE - Teses de doutorado

Arquivos deste item:
Arquivo Descrição TamanhoFormato 
TES_2021_Neide da Silva Campos.pdf1.73 MBAdobe PDFVer/Abrir


Os itens no repositório estão protegidos por copyright, com todos os direitos reservados, salvo quando é indicado o contrário.